Esclarecer, informar e divertir
Pela primeira vez, a história de quase dois séculos das revistas no Brasil é contada em livro da Editora Abril, com centenas de reproduções de capas, fotos e ilustrações
| Fundação Biblioteca Nacional/Reprodução
 | Inst. Histórico e Geográfico de São Paulo/Reprodução
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Tônia Carrero (1957) | O romance na fotonovela (1947) | O humor no cotidiano (1918) |
A Editora Abril lançou na semana passada o livro A Revista no Brasil,um volume comemorativo do aniversário de cinqüenta anos do maior grupo de publicações brasileiro, que edita VEJA. É uma bela obra. Em janeiro de 1812, o tipógrafo e livreiro português Manoel Antonio da Silva Serva apresentou aos leitores da cidade de Salvador a publicação intitulada As Variedades, considerada a primeira revista brasileira. Era um maço mal encadernado de papel, mais com cara de livro, que deixava exposta a aridez visual dos blocos compactos de texto. Durou apenas um segundo número, mas serviu para cravar o marco inaugural das revistas brasileiras. Desde então, muitas publicações surgiram e morreram – e é a história destes quase dois séculos de revistas que o lançamento contempla. "Em vez de editar um livro de história no sentido clássico da palavra, elaboramos uma obra no estilo próprio de revista – variada, multifacetada e viva", conta Roberto Civita, presidente da Abril, sobre o volume que acaba de lançar. Em 250 páginas, alinham-se centenas de reproduções de capas, páginas, fotos e ilustrações extraídas do mais abrangente painel de publicações montado até hoje, resultado de mais de dois anos de pesquisa de uma equipe que reuniu jornalistas, bibliotecários, fotógrafos, especialistas em tipografia e iconografia.
Fundação Biblioteca Nacional/Reprodução
 | Iconographia
 | Acervo de Antonio Sérgio Ribeiro/Reprodução
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Dom Pedro II é apeado do trono: mordacidade do desenhista Agostini, naRevista Illustrada, de 1882. O dom de fazer rir está presente em toda a história | Assis Chateaubriand pisa desafiadoramente na poltrona, enquanto conversa com o presidente Getúlio Vargas, em 1951: sua revista, O Cruzeiro, reinou até os anos 50 quando teve de disputar leitores com a Manchete | Jânio condecora Guevara (1961) |
Orlando Abrunhos/Manchete
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Entre Tostão e Jairzinho, Pelé dá um soco no ar, na Copa do Mundo de 1970: a revista Fatos & Fotos estampou o que seria a marca registrada do rei do futebol |
"É a primeira vez que se conta a história das revistas brasileiras desde o seu início. O livro traça uma viagem por quase 200 anos de revistas de todos os tipos, para todos os públicos, umas bem-sucedidas, outras nem tanto, mas nem por isso despojadas de interesse histórico", explica Thomaz Souto Corrêa, vice-presidente e diretor editorial da Abril e organizador do projeto. Os capítulos agruparam, tematicamente, alguns dos principais elementos do processo de produção: a capa, a reportagem, a ilustração, a fotografia, o projeto gráfico e o humor. Alguns gêneros mereceram também atenção especial, como os quadrinhos, o folhetim, a fotonovela, a cultura e o erotismo. O livro ganha a amarração de uma cronologia detalhista, que remonta ao lançamento de As Variedades, e uma completa bibliografia sobre o tema. "Não se trata de uma história da nossa empresa,mas de uma visão panorâmica", diz Civita, que, na terça-feira, entregou o primeiro exemplar da obra ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Acervo de Gilberto Maringoni/Reprodução
 | Acervo de Antonio Sérgio Ribeiro/Reprodução
 | Reprodução J. S. Rangel
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A arte na capa (1931) | Carmen Miranda (1945) | Congresso fechado (1968) |
O bom jornalismo, o apuro estético e o gosto pela reportagem eclodem ao longo da história das revistas brasileiras. Nem sempre aparecem juntos, porém. Em seu passeio histórico, o livro da Abril conta, por exemplo, que a Revista Illustrada chegou a infiltrar um republicano para descrever os bastidores do célebre baile da Ilha Fiscal, promovido por dom Pedro II e símbolo do fim do Império. Há momentos inesquecíveis como os protagonizados pela lendária dupla de repórteres aventureiros David Nasser e Jean Manzon em O Cruzeiro ou o dramático ferimento sofrido por José Hamilton Ribeiro, que teve uma perna estraçalhada por uma mina, como enviado especial de Realidadeà guerra do Vietnã. VEJA, revista que mudou a história da imprensa brasileira, tem parte de sua trajetória retratada pela reprodução de capas marcantes, como a da denúncia de tortura no regime militar, a do isolamento do ex-presidente Costa e Silva, a do difícil processo da abertura política e a do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Para os entusiastas das histórias em quadrinhos, A Revista no Brasil permite o reencontro com o pioneiro O Tico-Tico e uma galeria infindável de personagens que habitaram a infância de milhões de brasileiros, como Pato Donald, Tarzan, Flash Gordon, Mônica, Mindinho, Recruta Zero, Fantasma, Capitão Marvel, Pererê e o caboclíssimo Jeronimo, o Herói do Sertão. A evolução do papel das mulheres no mundo fica evidente na crescente sofisticação dos títulos dedicados a elas – A Estação, Para Todos..., Jóia, Manequim, A Cigarra, Marie Claire, Claudia e Nova.
Luis Humberto
 | Moacir Gomes/Manchete
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Os generais Ernesto Geisel, Hugo Abreu e Golbery do Couto e Silva com o chanceler Azeredo da Silveira, na foto de VEJA em 1978 | Os escritores Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira, Mário Quintana e Paulo Mendes Campos, em 1966: colaboradores das revistas de cultura |
Reprodução J. S. Rangel
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O começo da Abril (1950) |
Outro detalhe que certamente despertará o interesse do leitor é a possibilidade de acompanhar o desenvolvimento das revistas em seus aspectos gráficos. Um capítulo inteiro é dedicado à época de ouro da caricatura, na segunda metade do século XIX, quando sobressaiu o nome do italiano Angelo Agostini. Do esmero de seu traço, saíam críticas irreverentes, como a "derrubada" de dom Pedro II do trono, ou desenhos em defesa da causa abolicionista, na Revista Illustrada. O humor é uma constante, espelhado já na própria escolha do título das publicações:Marmota Fluminense, O Charivary Nacional, O Mequetrefe, O Diabrete ou O Papagaio. Numa época posterior, Millôr Fernandes, Henfil, Jaguar, Angeli e Miguel Paiva são os artistas que deram ao desenho de humor maturidade e consciência. A ficha técnica de A Revista no Brasil lista uma equipe de profissionais de primeira linha, como Susana Camargo, diretora do departamento de documentação da Abril e que foi coordenadora-geral do projeto. O planejamento editorial ficou a cargo de Leonel Kaz. "Esperamos que o livro ajude a compreender melhor o importante papel das revistas brasileiras na construção de uma identidade nacional e quanto elas ainda podem contribuir para informar, esclarecer e divertir o leitor na longa história aberta à nossa frente", escreveu Civita na apresentação do livro. A obra será distribuída gratuitamente a bibliotecas, escolas de comunicação, jornais e revistas de todo o país. Em breve, o volume estará disponível para compra nas maiores livrarias das capitais ao preço de 39 reais.
Reprodução J. S. Rangel
 | Reprodução J. S. Rangel
 | Bilblioteca Guita e Josae Mindlin/Reprodução
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Ferido no Vietnã (1968) | Luiza Brunet (1990) | FHC era um dos editores (1973) |
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