segunda-feira, 18 de junho de 2012

AMOR EM TRÊS TEMPOS





RETRATOS DE GERAÇÃO

AMOR em três tempos
Por Marisa Adán Gil


Antigamente, o amor era eterno. Depois, vieram as relações abertas e o divórcio. Hoje, os jovens simplesmente 'ficam'. Nos últimos 50 anos, muita coisa mudou na vida dos casais. A paquera, o namoro e o sexo acompanharam os sonhos e os valores de cada geração. Aqui, três mulheres – com 64, 50 e 24 anos – contam as delícias e as dores de viver e amar em três épocas diferentes.
A vida era bem difícil para uma adolescente dos anos 50. Para conhecer melhor aquele menino bonito da escola, precisava torcer para que ele a convidasse para a matinê de cinema. Depois, tinha que conseguir a autorização dos pais. Tudo isso para conseguir segurar na mão.
Sexo, nem pensar. Para isso, era preciso amargar um longo namoro no sofá, seguido por aulas de prendas domésticas e um pedido formal de casamento. Pronto, seu destino estava traçado: ela seria mais uma feliz rainha do lar. 'Para as mulheres que gostavam da idéia de serem esposas e donas de casa, ótimo', diz a psicóloga Roseli Gomes. 'Mas aquelas que tinham outros anseios eram prejudicadas, pois não havia nenhuma outra opção.'
No final dos anos 60 e início dos 70, o feminismo e a revolução dos costumes mudaram a face do planeta: as mulheres conquistaram o direito de ter uma profissão, ninguém mais acreditava em amor eterno, e a pílula anticoncepcional, que chegou nas farmácias brasileiras em 1962, foi decisiva para liberar o sexo antes do casamento. 'No momento em que a mulher ganhou esse leque de opções, foram atendidos outros anseios', diz Roseli. 'Por outro lado, começou uma cobrança infernal: a mulher tinha que ser, ao mesmo tempo, a mãe, a dona de casa e a profissional perfeita.'
Padrões de beleza sempre infernizaram a vida das mulheres. Mas, até os anos 50, eram mais flexíveis. 'Bastava a mulher não ser obesa ou magricela demais para se encaixar nos padrões', diz Roseli. A valorização crescente da aparência teve um alto custo para a mulher. 'Uma estética voltada ao culto do corpo levou a melhor sobre a sensualidade imaginária', diz Mary Del Priore, autora do livro 'História das Mulheres no Brasil'. 'Liberar-se tornou-se sinônimo de lutar contra a decrepitude, pois o prestígio exagerado da juventude tornou a velhice vergonhosa.'
No que se refere a sexo, o direito ao orgasmo foi a mudança mais notável. 'Junto com essa permissão, vieram altas doses de informação e autoconhecimento', diz Roseli. Em compensação, criou-se outro tipo de opressão, lembra a especialista. 'Alcançar o orgasmo feminino virou uma obrigação dela e dele, o que é muito pesado.'
Nem todas as revoluções vieram para ficar. O amor livre, proclamado pelos hippies dos 60 e 70, não vingou. 'As relações abertas eram uma grande idéia que não funcionou', diz Roseli. 'Não sei até que ponto o desejo de exclusividade é social ou psíquico. É uma linha difícil de estabelecer.'
A geração dos 90 não precisou levantar bandeiras contra modelos estabelecidos. Decisões sobre sexo e casamento não têm significado ideológico – a liberdade de escolha é um direito adquirido. A jovem acha normal transar aos 15 anos, ficar com vários garotos e dormir na casa do namorado. Ao mesmo tempo, alguns valores tradicionais como fidelidade, casamento e convívio familiar estão em alta no novo milênio.
Não há dúvida de que a liberdade feminina aumentou nos últimos 50 anos. Mas será que a mulher de hoje é mais feliz do que a dos anos 50? 'Acho que a chance de felicidade não depende apenas do tempo em que se vive, mas também de como a pessoa lida com as opções que se apresentam. Em cada época, a mulher teve que descobrir o seu jeito particular de ser feliz.'
MARIA ELEUSIS NOUVEL ALESSO, DONA DE CASA
Maria Eleusis, 64 anos, foi uma típica jovem dos anos 50. Casou virgem há 45 anos e nunca trabalhou fora
'Em 1953, eu tinha 15 anos. Naquele tempo, essa era a época em que uma garota começava a pensar em namorar, para ter um par no baile de debutantes. Nada era mais importante do que a valsa dos namorados. Na festa, você dançava até a meia-noite com o pai e, depois, com o namorado. Era a apresentação à sociedade: na prática, isso queria dizer que a gente tinha permissão para ir aos bailes à noite, usar vestido comprido, salto alto, um pouco de batom.
Era difícil conseguir um namorado, porque os pais não gostavam. As meninas ficavam olhando para os garotos, mas não chegavam perto. Tudo era cheio de regras. Eles só podiam convidar a gente para ir ao cinema, de dia, ou à missa. Também dava para dançar à tarde, nos clubes.
Lá em Curitiba, eu ia no Círculo Militar, tinha um baile das 4h às 8h. Meu pai me levava e ia me buscar. A música era romântica, com orquestra ao vivo, os casais dançavam juntos. Às vezes eles tentavam chegar mais pertinho, mas aí nós não deixávamos. Diziam que, se a gente deixasse, ia ficar 'falada'. Meus pais não gostavam nem que eu fosse ao cinema com os meninos. Sempre tinha que levar meu irmão mais novo. Sentávamos juntos no cinema e podia pegar na mão, mas não passava disso.
Lembro que uma amiga minha, com 15 anos, ficou grávida e casou. Foi um escândalo! A gente nem mesmo sabia o que tinha que fazer para engravidar. Ninguém sabia de nada, não se falava no assunto. Minha mãe nunca conversou comigo a respeito, nem quando eu estava prestes a casar.
Meu primeiro namoradinho foi o Caio. Eu tinha 15 anos quando ele me pediu em namoro, como se fazia na época. Depois, passou a me buscar sempre na saída do colégio, e também me levava ao cinema. A gente andava de mãos dadas, mas nunca passou disso. Meus pais sabiam, mas não gostavam do namoro. Ele não entrava em casa, não podia, isso só era permitido aos noivos. O namoro durou um ano.
No colegial, passei a estudar em colégio misto, e aí tinha muitos amigos meninos, mas nenhum namorado. Eram todos companheiros de baile, o que era bom, já que podia dançar à vontade. Algumas amigas minhas namoravam muito, eram mais ousadas. Aí vinham contar e a gente morria de rir.
Com 17 anos eu conheci meu marido. O Rui era dois anos mais velho que eu. Ele era de São Paulo, mas foi para Curitiba morar na casa da sua tia, que era minha vizinha. Foi amor à primeira vista. Se bem que, no começo, ele não gostava muito de mim, achava que eu era muito exibida. Mas depois fomos ficando amigos, emprestando livros um pro outro, conversando no final da tarde. Logo ele começou a freqüentar a minha casa. Namoramos pouco, uma questão de meses. Corajoso, ele decidiu logo me pedir em noivado. Fez tudo direitinho. Pediu para todos saírem da sala, queria ficar sozinho com meu pai. Depois que ele falou, o meu pai me chamou e perguntou se eu queria casar com ele. Fiquei um pouco indecisa, mas disse 'eu quero'.

FONTE: MARIE CLAIRE


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